PENSANDO A EXPOSIÇÃO

Diversos profissionais da arte e de fora dela foram convidados a fazerem uma pergunta a partir de um desafio: se tivesse apenas uma chance qual seria a pergunta que faria a um artista? Abaixo conferimos algumas respostas. Faça também a sua pergunta no espaço aberto aos comentários.

AUGUSTO SAMPAIO, artista plástico
Qual foi o artista que exerceu uma influencia fundamental em seu trabalho?

Sem dúvida foi a artista catalã Eulália Valldosera. Inicialmente seu trabalho me impactava muito por tudo aquilo que dizia, não tanto questões relacionadas com a arte, mas pensamentos diretamente relacionados com a vida. Pouco a pouco tenho vindo a coincidir cada vez mais com o conceitos teóricos com os quais ela trabalha, como o corpo-recipiente, a posição da mulher na construção da cutura, entre outros.

SIBELE FERNANDA SILVA , Psicóloga
Podemos aprender entrar dentro de uma obra de arte, ou isto é um dom?

Não é porque uns têm mais facilidade que os outros se tornam inaptos. Eu não tenho dom algum para a matemática, no entanto sei usá-la quando a necessito, e não é só nas compras do supermercado. Acho que para entrar dentro de uma obra de arte basta estar disponível. Mas assim como para a matemática é preciso persistência.

Uma pessoa que domina e conhece bem as linguagens artísticas precisa estar sempre em forma. Ágil. Com a “tabuada” na cabeça para acelerar o raciocínio.

A diferença da matemática é que na arte, a cada olhar o resultado se transforma. Não é uma ciência exata é um fazer humano. Não existe certo ou errado, existem conceitos abertos a serem trabalhados (por cada um e por todos).

LELIS TOLEDO, professora
Quando vejo a série "Inutilitários" me pergunto: Por que procuramos em tudo, inclusive na arte sua utilidade?
Por que as "coisas" tem que ter um caráter utilitário?
A arte não deveria bastar-se por si mesma? Sua total utilidade não poderia ser simplesmente a expressão do artista sobre sua impressões?

O bom de trabalhar com arte é que estamos sempre aprendendo alguma coisa sobre o nosso modo de estar na vida. Com este projeto tem vindo sempre a acontecer isso.
Inicialmente a minha pergunta era: Porque fazemos? E como é possivel que esse fazer nos transforme constamentemente? Depois essa pergunta tem vindo a se desdobrar noutras. Com relação ao conceito de utilidade decobri ao ler A condição humana de Hanna Arendt como essa é de facto a base sobre a qual acenta a cultura ocidental, não só o fazer como oposto da ação do pensamento, mas também na instrumentalização da sociedade e como tendemos a usar tudo. Ou seja, tudo o que fazemos são instrumentos para alcançar outros fins. Logo, não ter utilidade é algo que simplesmente não tem sentido numa sociedade como a nossa.

DENISE ARDO, técnica de programação do Sesc.
Qual a participação do artista no processo de mediação/aproximação entre fruidor e a obra de arte?

A educação pela arte e a mediação em torno da arte são dois temas distintos que não se devem confundir com o fazer artístico. Arte é pensamento, é uma área do conhecimento humano.No entanto, ocorrem erros freqüentes quando se tenta tornar esta relação demasiado óbvia, como por exemplo, quando se pensa que só é possível aprender arte se aprendemos uma técnica ou fizermos uma oficina em que o artista é colocado na posição de professor, que só assim ele pode traduzir arte em conhecimento.
No meu entender, a mediação está incluída no fazer artístico quando pensamos em exposição. Diferente do processo de criação de um trabalho, o processo de exibir, expor esse trabalho tende sempre ao espectador. É um momento de produção, elaboração em que o outro existe e é convidado a participar. Mediação para mim é isso: um convite à viagem. Não se trata de explicar, justificar. A questão não é simplesmente passar uma mensagem que o outro precisa compreender, mas sim dar início a uma troca de idéias.

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